Coluna Espírita

Publicada em 23 de junho de 2018

Sem esperar algo em troca

 É natural que ante o trabalho, o funcionário receba o seu salário, faz parte das convenções sociais que assim aconteça. Quem trabalha precisa e merece ser remunerado por isso. Nas relações humanas, um fenômeno acontece, que na maioria das vezes causa mais mal do que bem – o fato de esperar algo em troca. Nós, humanos, esperamos que, diante do bem feito, do elogio dado, do favor oferecido, do amor demonstrado e mesmo do trabalho bem feito, o outro nos retribua de alguma forma, seja com a mesma ação ou objeto anelado. Tal comportamento gera no ser uma frustração, ou por não ter correspondido o sentimento demonstrado, ou por não ter reconhecido o trabalho que julgava digno de tal retribuição. Pois o erro está precisamente em depositar expectativas em acontecimentos, pessoas ou situações além do limite prudencial que se deve ter com relação à sociedade. Pode parecer um olhar um tanto pessimista, mas é apenas uma forma de seguir os próprios ensinamentos cristãos, que pregam, acima de tudo, fazer o bem indistintamente e, é claro, sem esperar algo em troca, sem segundas intenções, aliás, o próprio Cristo mandou que se fizesse o bem sem ostentação, e mais, que “...Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”, como está escrito no cap. XIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Esta máxima significa que o bem que se faz, assim como qualquer ação que se tenha, deve ter como bandeira, antes de tudo a humildade e o desinteresse. Mas o nobre orientador, na mesma obra, salienta que é necessário ter a humildade real e não um simulacro de humildade, um “faz de conta”, visto que de Deus e da espiritualidade não é possível agir assim sem ser notado. Assim falamos com relação ao bem que se faça ao próximo, mas as máximas do Jesus abrangem todas as áreas das relações humanas, notadamente naquelas que dizem respeito à afetividade. Por exemplo: quando um homem e uma mulher se unem matrimonialmente, é comum verem-se um depositando no outro expectativas que depois de dividirem o mesmo teto, acabam por ser o motivo de algumas decepções, e por quê? Porque um ou os dois esperou algo que o outro ainda não era capaz de dar. Assim também acontece com os filhos, onde os pais, muitas vezes querem ver seus sonhos realizados na vida dos pequenos, e acabam por exigir-lhes muito mais do que realmente estavam preparados ou dispostos a fazer; obrigam-os a frequentar cursos de todo tipo, a vestirem-se desta ou daquela forma, a ingressar neste ou naquele curso universitário, na ânsia de os verem realizados, quando estão, na realidade, transferindo para os mesmos, a obrigação de serem o que queriam ser, e não puderam, devido às contingências da vida, onde circunstâncias diversas os levaram por caminhos diferentes do que gostariam de ter trilhado. Assim sendo, ficam como sugestão para uma vida mais leve e uma consciência mais tranqüila, a prática do bem sem ostentação e sem espera de retribuição; e a conduta perante o próximo sem pressão, sem esperar reconhecimento ou outro sentimento semelhante, afinal, cada uma é responsável unicamente por sua evolução, claro que auxiliar os outros é tarefa que nos distingue dos seres menos evoluídos e se faz necessário, diríamos que se constitui um dever cristão, mas ninguém pode caminhar pelo outro, ninguém pode fazer a jornada que cada um tem que trilhar por si mesmo. Esperar sempre o melhor, confiar, ter fé são impositivos daquele que têm Jesus no coração. Agora, exigir retribuição, pagamento ou reciprocidade dentro das relações entre os seres, neste momento da evolução humana, é algo que não pode ser exigido pelo homem, afinal, imperfeitos como somos todos os espíritos que estagiam neste planeta escola, é o mesmo que querer lavar as mãos sujas de lama, na própria lama; é querer colher flores enquanto plantamos espinhos, ou seja, ainda precisamos evoluir, progredir como criaturas imortais que somos, confiando em Deus, amando, perdoando e fazendo todo bem que estiver ao nosso alcance, e é claro, sem esperar nada, além da própria clareza de espírito e consciência.

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