Silvio Bermann


Como reagirmos às pré-candidaturas

 A imprensa local, de forma especial os espaços de rádio-jornalismo, vem sendo cada vez mais assediada pelos segmentos políticos para que sejam entrevistados seus pré-candidatos a cargos eletivos. Entre estes, certamente encontramos pessoas comprometidas com a comunidade pedritense e regional, de todos os matizes ideológicos. E, também, outros novatos no meio, sobre os quais não podemos arriscar juízos de valor pela inexistência, ainda, de uma performance uma vez detentores de qualquer função de autoridade. Mas, indubitável é que facilmente se identifica alguns que transitam nestas querências, a cada quatro anos, amealhando um voto aqui, outro acolá, sem absolutamente nada nos apresentarem de positivo para melhorar, ao menos um pouco, as enormes dificuldades socioeconômicas que afligem a Metade Sul do Estado. E o pior é que eles sempre retornam sem qualquer constrangimento.

 O discurso macro, no contexto, é o que mais me incomoda. É comum que os pré-candidatos aproveitem os espaços que a mídia local lhes proporciona para fazerem complexas e rebuscadas leituras do cenário estadual e nacional, não raramente incluindo, explícita ou subliminarmente, apologias às suas lideranças ou ideologias. O que, convenhamos, em nada mudará nossos destinos de homens e mulheres interioranos que teimam em, primeiramente, sobreviver, e depois viver com alguma dignidade neste distante garrão da Pátria.

 Fato: as siglas partidárias no Brasil de hoje não passam de esboços de ideologias e intenções programáticas, que, se no papel que aceita seus estatutos apontam para uma ou outra direção, a prática das interações de suas lideranças testemunha que tudo é deixado de lado na hora de acomodar-se alianças, interesses e outras atitudes condenáveis. Adversário aqui, aliado acolá; discursos adaptados às peculiaridades de onde se está; direita e esquerda, ora meros conceitos jurássicos; e ainda, o surgimento de uma linha maquiavelista de ação que já não é das mais novas, mas ainda é apresentada como Salvação da Pátria: descontentes, deserdados, escorraçados, sem espaços em suas legendas originais e até os desacreditados pelo povo reagrupam-se em novas siglas e reapresentam-se com projetos mirabolantes e promessas de fórmulas alternativas de fazer política. O que faz lembrar, no mundo dos negócios, aquele empreendedor de competência e/ou caráter duvidoso que decreta falência, deixa todos a ver navios e, ali na frente, abre outro negócio em nome de terceiros para continuar a se dar bem. A exceção, neste particular, fica por conta de quem ainda não foi testado no meio político e, efetivamente, apresenta-se repleto de boas intenções. E elas existem, apesar dos pesares.

 Mas, como fronteiriço de nascimento, interiorano assumido e trabalhador apenas remediado da metade pobre deste Estado, confesso-lhes, meus amigos, que estou menos interessado no discurso macro de quem já se insensibilizou nos corredores palacianos de Porto Alegre e de Brasília; e quero demais, mas quero mesmo, é saber como poderão nos ajudar a pelo menos reconquistar os quase 100 brigadianos que tivemos na década de 1990, hoje reduzidos à metade; a termos mais policiais civis para se somarem à excelente e sobrecarregada equipe de nossa DP; a não mais fecharmos repartições públicas, tendo de recorrer a Bagé quando delas precisamos; a não mais nossa prefeitura ter de fornecer condições do funcionamento de outras para que não também não fechem; a não ficarmos sobrecarregando a Liga Feminina de Combate ao Câncer a subsidiar exames, viagens e tratamentos que deveriam ser bancados todos pelos governos ‘de cima’; a que nossa gente pobre não precise recorrer à Justiça para ter acesso a tratamentos de saúde que a ‘Constituição Cidadã’ e o ‘Estado Democrático de Direito’ nos garante apenas no papel... enfim, coisas deste tipo, que gente simples precisa apenas para tocar a vida com um pouco de dignidade. E, por derradeiro, gostaria de sugerir não só aos pré-candidatos nas eleições deste ano, mas principalmente aos seus apoiadores, que os conduzem às rádios e jornais para que se pronunciem, que reflitam sobre esta máxima de Winston Churchill, que diz: “Um fanático é uma pessoa que não pode mudar de opinião, e que não muda de assunto”. Assim estariam poupando nossos ouvidos. Carpe diem!

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