Nelci Vargas


 É impossível falar sobre Nelci Vargas, sem falar em música. Figura carismática, sobretudo sensível, característica comum às almas que se dedicam às artes, Nelci é um artista nato, nome amplamente reconhecido do Estado inteiro e mesmo fora dele. Nossa reportagem foi recebida em sua casa, onde também funciona o seu estúdio, ambiente onde estão seus equipamentos, instrumentos e seus trofeus, muitos trofeus, resultado de sua trajetória vitoriosa que já conta, certamente com mais de 50 anos dedicados à música, em suas mais amplas definições.

 Seu nome completo é Nelci Moraes de Vargas, pedritense de 65 anos, oriundo de uma família de músicos, como seu avô Máximo Moraes, Dorval Moraes - maestro conhecidíssimo, o tio Ângelo Moraes, trompetista da Ospa, todos nomes com quem aprendeu muito sobre música e instrumentos de um modo geral. Desde cedo seu tio Ângelo, quando em visita, falava a seus pais: "Esse menino tem ouvido absoluto, tem que levar ele para Porto Alegre". Ouvido Absoluto, de uma forma simples de se explicar, é o nome que se dá às pessoas que têm a capacidade de identificar nos mais variados sons, as suas notas correspondentes, ou seja, um dom. Casado com Rosana Maria Lehr, teve duas filhas: Talyta Lehr Vargas, que herdou o gosto do pai pela música e Kizy Vargas, atualmente morando em Portugal.

 Pela sua competência como produtor e arranjador musical, Nelci teve diversas chances de trabalhar em centros maiores, mas por opção sua, escolheu Dom Pedrito para morar e trabalhar. "A tranquilidade que Dom Pedrito proporciona, musicalmente falando, para mim é muito importante. A cidade abraça, e eu sou abraçado por Dom Pedrito", disse Nelci, que lembrou também que esses grandes centros, como Porto Alegre, por exemplo, não lhe completavam como pessoa. Nas suas palavras, a vida na capital não combinava com a arte pura. A grande questão não era tão somente o sucesso ou muito dinheiro, mas sim, viver bem e contribuir com aquilo que se faz, onde, certamente a sua música tem um grande papel, hoje, mais de 10 mil já gravadas, por ele e por centenas de artistas do Rio Grande do Sul e outros estados. E assim ele fez, trabalhando em estúdios por este Brasil afora, mas com suas raízes fincadas na terra do Ponche Verde.

 Sobre o dom que carrega e como ele despertou, Nelci diz que cada um nasce com uma vocação, e com ele não foi diferente, no que ele refere como tendo nascido com essa missão, com esse dom de conseguir extrair melodia de um som que para a maioria passaria despercebido. Sobre sua iniciação na música propriamente dita, já dissemos que os genes familiares influenciaram, mas o interesse e a humildade em querer aprender foram ingredientes fundamentais na construção de sua bagagem musical e como pessoa. O primeiro instrumento foi o cavaquinho, com oito anos de idade. Depois, por consequência, Nelci percebeu que realmente tinha facilidade para aprender, e assim vieram todos os outros – violão, guitarra, contrabaixo, acordeon, instrumentos de sopro e tantos outros, por isso ele mesmo fala que não toca nenhum, mas arranha todos, denotando extremada modéstia, como multi-instrumentista que é. Para se ter uma ideia, nosso entrevistado saiu de uma cidade do interior, músico de fato, mas sem formação na área e ganhou o mundo. Para a maioria, talvez pareça que Nelci esteja mais vinculado à musica regional, porque foi neste gênero que fez maior sucesso, mas perguntado sobre que tipo de música prefere ouvir , disse apenas que é aquela que fala para a alma, dando mostra da amplidão que a música possui, em que fronteiras existem apenas nas convenções humanas.

 Seus primeiros tempos não foram, portanto, na música nativista ou regional, mas nos gêneros populares, como o rock e outros. O acordeon surgiu em sua vida em 1978, e já em 1980 resolveu gravar um disco somente com esse instrumento. Nessa época, por ter reconhecido o seu talento com os detalhes da arte, a convite, passou a fazer arranjos, e daí não parou mais. Por seu jeito de tocar a gaita ser um tanto diferenciado, isto chamou a atenção de artistas e dos festivais. Nomes como Elton Saldanha, João de Almeida Neto, Adair de Freitas, Luis Carlos Borges e outros começaram a convidá-lo para participar dos eventos, que antigamente eram muitos, como a Coxilha Nativista, de Cruz Alta; Gauderiada da Canção, de Rosário do Sul; Tertulia Musical Nativista, de Santa Maria; Califórnia da Canção, de Uruguaiana, o nosso Ponche Verde da Canção Gaúcha e tantos outros, época de ouro dos festivais. 

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