Luciana Michel


Não, não foi um sonho!

 Quando chegamos, não acreditei! Entrei numa máquina do tempo e de espaço, me senti imersa numa época que nunca tinha estado, mas que sempre me fascinou. Será que estou sonhando? Depois de uns drinks a mais, confesso que cheguei a me beliscar para ver se acordava.

 Sempre que vamos à Versailles fico imaginando como deveria ser a vida no castelo e, mais importante, como deveriam ser as festas da corte! Como seria a rainha Maria Antonieta e suas súditas flanando pelos salões e jardins do castelo, carregando aqueles vestidões lindos e volumosos? Até que, este ano, um casal de amigos, que moram nesse encantado subúrbio-chique de Paris, nos convidou para o baile, que acontece todos os anos no local.Ao aceitarmos o convite, logo após o ponto de interrogação da “festiva” proposta que nos fizeram, não imaginava a dimensão de tal acontecimento. 

 Para quem não sabe, Versailles, é conhecido como o maior palácio do mundo, foi lá que a Realeza Francesa morou depois que se mudou do Louvre, que fica na capital. Ponto turístico obrigatório para quem vem à França, só para se ter uma idéia de sua dimensão, o palácio tem 2.153 janelas, 67 escadas, 352 chaminés, 700 quartos, 1.250 lareiras e 700 hectares de parque e foi, durante mais de 300 anos, cenário das maiores e mais badaladas comemorações da corte europeia.

 Além de ser aberto diariamente a visitas, permitindo ao público conhecer a grandeza e o luxo de suas dependências e as belezas de seus jardins, desde 2011, foi acrescentado ao programa de eventos, um baile anual, que durante uma noite inteira de festa, nos faz viajar ao passado e reviver as famosas “baladas” reais.

 Tudo começa à meia-noite, como uma grande queima de fogos, e só acaba com o raiar do dia. Com apenas 2000 sortudos e antenados participantes, que a boca pequena, sabem que o evento existe (obrigada aos meus amigos que me convidaram!), o baile é simplesmente fantástico! Regada a champanhe a atmosfera é de festa na Corte. Me senti a própria Maria Antonieta nos áureos tempos de rainha, antes da guilhotina, é claro. Para animar ainda mais, a trilha sonora passa longe da valsa. DJs internacionais e muita música eletrônica, fazem parte do set list musical.  Juntando a isso, dançarinos, performers e artistas, que num cenário misturando caveiras, cofres cheios de tesouros, fogueiras espalhadas pelo jardim, estátuas e móveis gigantes, deram um toque contemporâneo moderno ao estilo Luís XV.

 Como regra imprescindível, além do convite ,que custa entre 88 e 330 euros, que devem ser comprados com bastante antecedência e também dão acesso ao Fountains Night Show, uma apresentação nos jardins do palácio, com as fontes de água, luzes e pirotecnia,o dress code é obrigatório e rígido. Traje estilo barroco de extremo luxo, com máscara, que não podem ser tiradas, sob hipótese nenhuma! 
 Poucas lojas em Paris e, mesmo em Versailles, dispõem de roupas a esse nível, com preços de no mínimo 180 euros por fantasia, seja ela feminina ou masculina. Eu e meu marido, marinheiros de primeira viagem, ou melhor, nobres de primeiro baile, desavisados, deixamos para alugar nossas roupas apenas um mês antes do grande dia. Sem muita escolha, não fizemos feio, mas deixamos a desejar no quesito ousadia, em relação a nossos convivas. 

 No próximo, prometo “abafar” geral a realeza, pois agora já fiquei sabendo que toda a “corte” faz isso com meio ano de antecedência, tamanha a exclusividade e raridade das vestimentas! A falta de conforto do vestido gigante, espartilho me cortando a circulação, e as ancas triplicadas pelas saias de armação, me fez conhecer e entender bem, o sufoco que passavam as mulheres daquela época. Tudo fica muito complicado! Mas, entre perucas, plumas, príncipes, cortesãs, duques e todos aqueles que sempre sonharam em reviver a realeza francesa, como eu, vivi um sonho inesquecível! Porém, não era um sonho, então ano que vem, que já tem data marcada, Versailles já pode contar com minha nobre presença!

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