Silvio Bermann


Andréia Bohn – a única pediatra atendendo ambulatório SUS

 A médica pediatra Andréia Jorge Bohn, em recente entrevista que me concedeu na Rádio Upacaraí, esclarece a situação atual de Dom Pedrito com relação aos atendimentos nesta especialidade. Além dela própria, só podemos contar, hoje, com a dra. Cinára Barreto de Melo.

 Elas se dividem no serviço de Sobreaviso contratado pela prefeitura, que a qualquer momento pode ser acionado pelo Pronto Socorro ou Santa Casa de Caridade. “A escala começa, diariamente, às 16h30min, para atender as urgências e emergências na área de Pediatria.

 Nós não estamos no local, mas toda vez que o médico do Pronto Socorro tiver uma urgência ou emergência com crianças e ele precisar de uma ajuda, irá nos chamar”, explica Andréia. Ela acrescenta: “E também estamos presentes nas salas de parto, em todos os nascimentos, pela escala de sobreaviso, ora uma, ora outra”.

 Fora essa situação de sobreaviso, cada uma das pediatras atende em seus consultórios e na Copermed. Mas Andréia é a única pediatra que presta atendimentos ambulatoriais na rede pública, pelo SUS (Sistema Único de Saúde) – o que acontece no Posto de Saúde e no prédio do PAM (Posto de Atendimento Médico). Embora tenha que se registrar que dra. Cinára continua atendendo pelo SUS os pacientes internados no Hospital São Luiz. Ou seja, pelo telefone 0800-541-3177 só se consegue atendimento pediátrico com a dra. Andréia, para consultas no período da tarde. Já pela manhã, no Posto de Saúde Central Andréia faz o atendimento de crianças recém-nascidas até a idade de 2 anos, o que é pré-agendado, isto é, a criança sai de uma consulta com a próxima já marcada.

 Esses atendimentos pela manhã são de acompanhamento regular das crianças – 15 fichas por dia, de segunda a sexta-feira. “Quando a criança faz o Teste do Pezinho, já recebe o agendamento da primeira consulta e, quando sai desta, é pré-agendada a próxima”, ela esclarece. “Às vezes ocorre de a gente conseguir ‘encaixar’ alguma criança que esteja ruim naquele mesmo dia, na vaga de alguém que falta à consulta, coisas assim, às vezes se consegue ‘encaixar’, mas nem sempre isto é possível”, destaca.

 Dra. Andréia aproveita para esclarecer acerca de um mal-entendido que está circulando na cidade, de que havia pediatra atendendo na ESF São Gregório/Santa Terezinha e agora não tem mais. Ela explica: “Eu atendia duas tardes por semana, no São Gregório e outras duas tardes no PAM. Aí a secretária (municipal) de Saúde me chamou, faz pouco, há menos de 1 mês, e me colocou o seguinte: que existia uma demanda reprimida de pediatria, que ela não achava justo o São Gregório ser o único bairro que teria pediatra e os outros bairros não. 

 Então, ela achou melhor eu ficar no PAM todos os dias, centralizar ali os atendimentos e ter fichas disponíveis todos os dias para as pessoas de todos os bairros. Então, eu não estou mais no São Gregório, mas esses atendimentos de lá foram transferidos para o PAM, pelo 0800”. São 10 fichas por dia, durante 4 dias na semana, à tarde.

 Segundo Andréia, até agora, há dias em que sobram fichas – e ela teoriza: “Talvez nem todos saibam que estou atendendo no local todos os dias”. E também há as consultas no PAM que, daquelas 10 fichas diárias, são reservadas aos encaminhamentos feitos pelo Conselho Tutelar.

 Portanto, fique claro que, em se tratando de consultas ambulatoriais pelo SUS, só temos, hoje, 1 pediatra nesse serviço. Questionada sobre o quadro, dra. Andréia se posiciona: “Isto já se sabe há muito tempo. Já foi colocado para a secretária (atual) e os secretários anteriores que um único médico pediatra é muito pouco. Mas a pediatria, em nível de Brasil, conta com poucos médicos. Os novos profissionais que vão se formando têm cada vez menos interesse nessa especialidade. Porque o pediatra atende não só a doença, mas também a prevenção, o desenvolvimento da criança, então é uma consulta que leva muito mais tempo que as outras e demanda uma dedicação muito maior, porque criança doente não espera, já que é pequena, é mais frágil. Com isso, está cada vez mais difícil conseguir médicos pediatras em todas as cidades. Procura-se por eles, sim. Nós éramos quatro, contando com os drs. Jorge e Gilberto, ambos falecidos. Então, éramos quatro e já éramos poucos, e agora somos só duas.

 Tem-se tentado trazer mais médicos, de forma geral, para o município, mas não se tem conseguido, porque o que se quer é médicos morando em Dom Pedrito. E nesta área, não adianta termos um pediatra que venha, atenda 10 consultas pela manhã e vá embora, porque criança não tem hora para adoecer. Então, a gente precisa de alguém que venha morar aqui, dividir todos os horários do dia conosco”.

 E, por derradeiro, dra. Andréia opina que, “(...) o que mais impede a vinda de outros médicos para Dom Pedrito, tanto os clínicos como os especialistas, é o fato de termos pouca estrutura no sistema de saúde. Em outras cidades, o médico que está no Posto, por exemplo, só faz Posto. Outro, só vai para tal ambulatório. E aqui não, a gente tem que se dividir no dia em vários locais, correr de um para outro. Não temos uma hora de trabalho pré-determinada, hoje por exemplo a gente ficou sem almoço porque não deu tempo, foi muita correria” – e, quando perguntada se, ainda assim, não corremos o risco de perdê-la, de ela vir a se descredenciar do SUS, respondeu que não. Mas lembrou: “Em todas as minhas férias, corremos o risco de não ter ninguém para ficar no meu lugar. O que tenho feito é dividir as férias em dois ou três períodos, nunca tiro um mês inteiro, para não deixar muito tempo as crianças sem um especialista (no caso, em nível de consultas SUS).

 Enfim, quando Andréia entra em férias o município fica sem pediatra para consultas ambulatoriais pelo SUS. Esperamos ter sido bastante transparentes sobre esse problema que nossa comunidade enfrenta.

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