Silvio Bermann


S.0.S. Vida – Façam parar a dor!

 Todos os esforços humanos nesta Terra visam, em última análise, atingir-se a felicidade. Dos mais simples aos mais rebuscados objetivos que tenhamos, sejam de natureza material ou espiritual, não há um sequer que não tenha esse foco, possuamos ou não dele consciência. Ninguém quer o carro, a viagem, o diploma, o conhecimento, o amor, a aventura ou qualquer outro alvo de sua atenção e esforço apenas por capricho. A intenção última está fundamentada na certeza de que, uma vez obtendo-se o que se almeja, se atingirá o estado de graça que chamamos felicidade. Ainda que essa seja fugaz. Embora uma vez saciados daquele prazer logo o substituamos por outro desejo, porque esse estado quase permanente de insatisfação parece fazer parte da natureza humana, que se sente sempre incompleta. E inobstante devamos estar sempre preparados para as oscilações desses estados de consciência que também são inerentes à vida, pelo menos ao atual estágio de nossa evolução. Neste contexto, costumo citar Gibran: “Quando a alegria está sentada em tua mesa, a tristeza dorme em tua cama”.

 É justamente aqui que deve reinar o equilíbrio, a capacidade de sublimar a dor – entendendo-a, vivenciando o luto da perda (seja qual for) até, finalmente, transcendê-lo para continuar buscando a felicidade. O problema, meus amigos, é que alguns recebem cruzes demasiado pesadas para poderem, sozinhos, carregá-las. Ou, ainda, não estão saudáveis mentalmente para enfrentarem à altura as feras que estão soltas nesta selva de concreto, apelos, consumismo e antivalores em que vivemos.  Até aqui vão minhas reflexões leigas sobre o assunto. Doravante, no contexto desteSetembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, fui buscar referências profissionais e qualificadas com a psicóloga Daniela Sabedra, que faz parte da equipe multidisciplinar da Santa Casa de Caridade de Dom Pedrito e possui bastante experiência, inclusive, no acompanhamento de pacientes com distúrbios mentais.

 Ela nos diz: “O suicídio é um problema de todos. Trata-se de um fenômeno complexo que envolve múltiplas causas e afeta, além da vida, parentes e amigos, e está relacionado a múltiplos fatores: psicológicos, sociais, culturais e ambientais”.

 Continua Daniela: “O indivíduo que tem o desejo de morrer encontra-se totalmente vulnerável e fragilizado, e não vê saída para seus problemas. Infelizmente existe muito preconceito, desconhecimento e medo. É necessário mudarmos essa visão e estimularmos as pessoas a procurar ajuda”.

 A psicóloga também orienta: “A pessoa deseja livrar-se de um sofrimento e acredita que suicidar-se é a melhor saída. Os dois principais fatores de risco são: tentativas anteriores de suicídio e transtorno mental (depressão, esquizofrenia e uso abusivo de álcool e outras drogas). Outros fatores: doenças graves (HIV, câncer, cardiovasculares), isolamento social, ansiedade, desesperança, crise conjugal e familiar, situação de luto e perda ou problemas no emprego”.

 E então, o que podemos fazer por essas pessoas com potencial suicida? Daniela Sabedra nos orienta: “Devemos estar atentos e levarmos a sério o que falam, porque é mito a afirmação que diz ‘Quem quer se matar não avisa’. Na verdade, as pessoas que pensam no suicídio, normalmente, comunicam direta ou indiretamente que querem morrer. Outras dicas: quando a pessoa fala que não tem mais razão para viver, devo mostrar que existem outras pessoas que sofrem mais que ela; conversar com a pessoa de forma sensata e acolhedora reduz o nível de desespero suicida; é preciso mostrar respeito, cuidado, compaixão, afeição, e, sobretudo, ouvir sem críticas e julgamento; a pessoa com ideia suicida precisa de ajuda de profissionais (psicólogo, psiquiatra, médicos), a ameaça suicida precisa ser levada a sério. A pessoa que pensa em morrer necessita de apoio emocional de um profissional”.

 E, em Dom Pedrito, ainda podemos contar com o CAV (Centro de Apoio à Vida), que funciona numa sala no Posto de Saúde, perto da sala de vacinação. Ali, voluntários se revezam para acolher as pessoas com problemas, dispondo-se a ouvi-las sem qualquer identificação ou julgamento, de segunda a quinta-feira, das 9h às 11h e das 13h às 15h, e nas sextas só pela manhã. Mais informações pelo 3243-9987.

 Por derradeiro, fica esta máxima do dr. Augusto Cury: “Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida”. Carpe diem!

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